O Fim da Licença-Maternidade
Bem, com certeza muitos aqui não sabem, mas, desde quando mamãe descobriu a metástase, eu não tava trabalhando. Tinha 2 meses que havia formado e ainda estava inserida naquelas pesquisas sobre "Taxa de desemprego entre pessoas de 18 a 24 anos dispara e ameaça geração". Pois é, meus caros, além de desempregada, eu ainda era uma ameaça a geração. Pirem aí...
Mas não foi a descoberta de ser uma ameça que me apertou o coração, e sim o fato de ficar longe da minha preciosidade. Como assim eu ia trabalhar e deixá-la no momento em que ela mais precisava de mim? Será que vale mais a pena sair da estatistica ou me dedicar a minha mãe? E o pior dos questionamentos...Será que eu não vou ser egoísta em aceitar? E aí no meio de tanta dúvida, eu ouvi a opinião de quem mais importava:
- "Filha, eu vou me sentir muito mal se você não for. Vou sentir que sou um peso e que atrapalho a sua vida".
-Você nunca será um peso, mãe.
-Mas você precisa ir, uma hora as mães precisam voltar a vida normal delas
Chorei, chorei, chorei e chorei mais uma vez antes de tomar a decisão. Mas, em reunião com a família, todos concordaram que eu deveria ir. Que eu não estava sendo egoísta e que uma hora ou outra isso ia acontecer. E mais..."Somos uma família, vamos nos organizar e todos irão ajudar", foi o que eu ouvi do meu pai.
E não é que eu recebi ajuda da família toda mesmo? Além do pai e do irmão - que já estavam ativamente inclusos na rotina da mamãe- vó, vô, prima, tios e o namorado entraram na "dança". E agora a nossa nova rotina é assim:
- Na semana seguinte a que mamãe faz a quimio, ela fica com meus avós paternos
- As primas sempre ficam um dia com ela, na semana pós qumio
- Toda quinta meu boy vem ficar com ela, pela manhã
- Toda tarde meu irmão fica com ela
- E agora o pai sai mais cedo do trabalho
Quando mamãe fica com o vovô e a vovó, dizemos que ela vai pra creche. Acordamos mais cedo e antes de ir para o trabalho, deixamos ela lá com meus avós. Levamos os materiais dela de artesanato, frutas, remédios e tudo mais que ela precisa pra passar o dia bem. Dou um super beijo nela e sigo para o meu trabalho com o coração na mão, mas, sei que ela está sendo bem cuidada. Fora que eu falo com ela várias vezes no dia e quando saio do trabalho, vou pra lá encontrar com ela e peço o relatório do dia dela aos meus novos anjos de guarda.
Não é porque eu fui trabahar, que deixei de amá-la e cuidar dela. E percebi que, mesmo que um filho (ou no meu caso, uma mãe) dependa dos nossos cuidados, sempre chega a hora que a gente precisa se afastar e acompanhar as coisas "de longe". E que ninguém vira menos mãe ou menos filha por isso, a gente só permite que outras pessoas compartilhem do previlégio que é estar na companhia dos nossos tesouros.
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