Criei o blog para ter meu cantinho para desabafar. Um cantinho pra escrever tudo o que eu sinto. Os bons resultados e os medos também - afinal, por mais esperançosas que sejamos, eles existem, infelizmente.
Mas, principalmente, o Luta de Duas foi criado para que eu pudesse encontrar mais pessoas que estivessem passando pela mesma situação, ou que já passaram por ela. Afinal, sempre vejo pessoas que tem câncer contando o seu cotidiano e superação. No entanto, pouco via sobre as famílias.
Sempre que ia para as consultas, via pessoas que já estavam em tratamento e ficava imaginando como estava sendo pro familiar daquela pessoa, passar por esse processo. Porque, por mais que só a pessoa que tem a doença passe pelo tratamento e tenha todos aqueles sintomas ruins...Elas nunca estão só. Filhos, marido, pais, primos, avós...Os anjos (como são chamadas as pessoas que acompanham quem está em tratamento lá no Nob) sempre estão por perto e envolvidos nessa luta.
Enfim...Sempre quis ouvir como outras pessoas viam a doença e quem sabé poder ajudar tantas outras. Fiquei em dúvida logo no começo pela exposição que traria a miha mãe. Pessoas próximas e desconhecidos iriam saber o que se passava com ela.
Mas, depois que divulguei o blog nas minhas redes sociais, o que mais recebi de amigos e conhecidos foi amor. Amor de gente que eu nunca imaginei que receberia. Inúmeras foram as mensagens de apoio, de carinho e de fé. Chorei de emoção e me senti ainda mais forte pra continuar nessa luta.
E no começo desse mês, outra coisa linda aconteceu...Contei nossa história no IG do
@TchauCâncer (perfil que conta a história de quem venceu e quem vencendo essa doença) e recebi outra
chuva de amor. Amor de todos os cantos do Brasil. Muita gente mandando força, luz e orações. E outras tantas se identificando com a situação.
Cheguei até a conversar com algumas e trocar experiências.
E consegui me emocionar ainda mais, percebi que, definitivamente, eu não estava sozinha nessa. E que eu finalmente estava honrando com o objetivo do blog. Uma felicidade enorme tomou conta de mim, parecia menina comendo o seu primeiro algodão doce (sou viciada).
AOS AMIG*S, CONHECID*S, COLEGAS E GUERREIR*S DE CAUSA...OBRIGADA POR ME DAREM TANTO AMOR. COM CERTEZA EU E A MAMÃE GANHAMOS AINDA MAIS FORÇA DEPOIS QUE RECEBEMOS AS MENSAGENS E O APOIO DE VOCÊS.
Bem, com certeza muitos aqui não sabem, mas, desde quando mamãe descobriu a metástase, eu não tava trabalhando. Tinha 2 meses que havia formado e ainda estava inserida naquelas pesquisas sobre "Taxa de desemprego entre pessoas de 18 a 24 anos dispara e ameaça geração". Pois é, meus caros, além de desempregada, eu ainda era uma ameaça a geração. Pirem aí...
Mas não foi a descoberta de ser uma ameça que me apertou o coração, e sim o fato de ficar longe da minha preciosidade. Como assim eu ia trabalhar e deixá-la no momento em que ela mais precisava de mim? Será que vale mais a pena sair da estatistica ou me dedicar a minha mãe? E o pior dos questionamentos...Será que eu não vou ser egoísta em aceitar? E aí no meio de tanta dúvida, eu ouvi a opinião de quem mais importava:
- "Filha, eu vou me sentir muito mal se você não for. Vou sentir que sou um peso e que atrapalho a sua vida".
-Você nunca será um peso, mãe.
-Mas você precisa ir, uma hora as mães precisam voltar a vida normal delas
Chorei, chorei, chorei e chorei mais uma vez antes de tomar a decisão. Mas, em reunião com a família, todos concordaram que eu deveria ir. Que eu não estava sendo egoísta e que uma hora ou outra isso ia acontecer. E mais..."Somos uma família, vamos nos organizar e todos irão ajudar", foi o que eu ouvi do meu pai.
E não é que eu recebi ajuda da família toda mesmo? Além do pai e do irmão - que já estavam ativamente inclusos na rotina da mamãe- vó, vô, prima, tios e o namorado entraram na "dança". E agora a nossa nova rotina é assim:
- Na semana seguinte a que mamãe faz a quimio, ela fica com meus avós paternos
- As primas sempre ficam um dia com ela, na semana pós qumio
- Toda quinta meu boy vem ficar com ela, pela manhã
- Toda tarde meu irmão fica com ela
- E agora o pai sai mais cedo do trabalho
Quando mamãe fica com o vovô e a vovó, dizemos que ela vai pra creche. Acordamos mais cedo e antes de ir para o trabalho, deixamos ela lá com meus avós. Levamos os materiais dela de artesanato, frutas, remédios e tudo mais que ela precisa pra passar o dia bem. Dou um super beijo nela e sigo para o meu trabalho com o coração na mão, mas, sei que ela está sendo bem cuidada. Fora que eu falo com ela várias vezes no dia e quando saio do trabalho, vou pra lá encontrar com ela e peço o relatório do dia dela aos meus novos anjos de guarda.
Não é porque eu fui trabahar, que deixei de amá-la e cuidar dela. E percebi que, mesmo que um filho (ou no meu caso, uma mãe) dependa dos nossos cuidados, sempre chega a hora que a gente precisa se afastar e acompanhar as coisas "de longe". E que ninguém vira menos mãe ou menos filha por isso, a gente só permite que outras pessoas compartilhem do previlégio que é estar na companhia dos nossos tesouros.
Enfim...Chegamos a metade do nosso caminho!!
Depois de muito ovo, batata doce, frango, cereais, frutas, suor, canseira nas pernas e muuuuuuuuuuuita água...Conseguimos completar o circuito da nossa meia maratona! Nuus, tô aqui escrevendo super ofegante. Sabe como é, né, atleta tem sempre que deixar estampado a conquista na cara.
Brincadeiras a parte...Mamãe chegou a metade do seu cilco, 3 de 6 sessões de quimioterapia. E a verdade é que muita coisa muda após a primeira e agora estamos muito mais cuidadosos com relação ao que está por vir.
Dessa vez, ela demorou muito mais para se recuperar e apresentou novas reações a quimioterapia (sentiu muita frazqueza nas pernas. Fora que antes o médico chegou a suspeitar de uma infecção urinária e quase suspendeu a sessão de quimio, mas, como minha mãe é uma mistura da power ranger rosa com a lilás (nem sei se existe), não tinha nennhuma bactéria. E o melhor...A imunidade dela aumentou!!!!!
E quer saber, gente? Apesar de tudo que acontece quando a mamãe toma a quimio, eu tô feliz. Feliz porque sempre ouço os médicos dizerem que ela está muito bem. Engraçado como depois que a gente vira adulto, o conceito de felicidade muda - apesar d'eu ainda me emocionar quando ouço que vai ter alguma festa infantil pra ir.
Agora estamos nos preparando para correr a São Silvestre, claro. porque somos isso (beijonoombroprazinimigas). Mamãe já comprou o Gatorade e eu um tênis da Nike suuuuper colorido (acho que quanto mais cor, mais chance de vencer a corrida)
E QUE VENHAM AS PRÓXIMAS CORRIDAS, O CANSAÇO NAS PERNAS E OS NOSSOS LITROS DE SUOR, PORQUE QUANDO CRUZARMOS A LINHA DE CHEGADA, TUDO ISSO SERÁ ESQUECIDO.
P.S: Aos fitness e atletas de plantão...Peguei as informações de cardápio no GOOGLE, não me
julguem! :D
Mamãe e seu fiel escudeiro, o Golfinho Dom!